domingo, 12 de junho de 2016

o dia em que tudo desapareceu


Imagem de grunge, boy, and alternative


No momento em que o par de All Stars vermelhos se desprendeu da plataforma, a mãe dele colocava a água pra ferver.

O pai dele gritava e reclamava da demora do jantar, a testa se convertendo em um vinco, expressão que parecia nunca sair de seu rosto.

O irmão dele, o qual fora o único bem sucedido na tarefa de ser o "homem da família", jogava futebol na quadra da esquina, apesar do frio, tentando prolongar ao máximo a partida para não ter que voltar pra casa.

O moço da lojinha de doces do terminal de ônibus achou um pouco estranho o fato daquele jovem simpático que todos os dias, religiosamente, passava pra comprar uma barra de torrone, ainda não ter aparecido.

O colega de faculdade, que era todo escárnio cada vez que ele passava, se preparava para a prova do dia seguinte.

Do outro lado da cidade, Lucas sentiu o celular vibrar no bolso, e por um segundo se perguntou onde estaria aquele garoto de cabelo preto e olheiras quase da mesma cor. Ele lhe provocava sentimentos com os quais não sabia lidar. Por um momento sentiu-se culpado por nunca retornar suas mensagens. Só por um momento. Não o suficiente para garota deitada ao seu lado perceber que havia alguma coisa estranha. 

A noite passou sem ele. Assim como todas as outras noites passariam. E todos os dias. 


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